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Maior greve de trabalhadores da região completa 28 anos

Mais de 90% dos trabalhadores calçadistas de Parobé aderiram à paralisação em maio de 1990

Uma das maiores mobilizações do setor calçadista regional completa nesta semana 28 anos. Em 22, 23 e 24 de maio de 1990, Parobé foi palco da greve que exigiu uma reposição salarial aos trabalhadores da indústria de calçados. Durante três dias, nada se produziu nas empresas do setor no município.

Organizada pelo Sindicato dos Sapateiros de Parobé, que na época tinha como presidente Almerindo Nunes, a mobilização ainda é lembrada como um ponto importante para que houvesse melhores condições nos postos de trabalho.

Tudo começou quando os funcionários das empresas, procuraram a entidade pedindo uma representação perante as reclamações do que era pago. “Nós recebíamos na portado sindicato uma quantia de 100 a 200 trabalhadores por dia exigindo uma posição quanto ao salário. Existia um movimento que estava querendo salários melhores. Tínhamos um aperto, porque naquela época a inflação era alta e a economia instável”, destaca Nunes.

Neste período, o município era um dos principais polos da indústria de calçados, onde os trabalhadores contavam com uma vasta oferta de emprego em grandes empresas como a Calçados Simpatia, Calçados Starsax, Calçados Bibi e a principal, Calçados Azaléia.

Fortalecidos junto a Federação dos Trabalhadores na Indústria do Calçado e do Vestuário (FETICVERGS), os representantes do sindicato uniram os trabalhadores pela paralisação. Somente na empresa Calçados Azaléia, mais de 95 % da produção foi suspensa durante a greve.

O ex-presidente também conta que foi até um dos sócios da Azaléia na época, Nestor Herculano de Paula, afirmando que caso não houvesse uma negociação, haveria uma paralisação em massa. “Eu ia negociando com o Nestor todo dia. Chegava pra ele e pedia que melhorasse o salário. Alertei que o pessoal ia parar”, conta.

Desacreditado na força da mobilização, de Paula teria duvidado do sindicalista. “Nunca esqueço que ele me disse que o pessoal estava satisfeitos. Eu disse a ele que não estavam. Tanto é que mais tarde ele deu entrevistas reconhecendo que estava enganado”, explica Nunes.

Os demais participantes da mobilização também afirmam que a ação foi de grande importância para o momento que vivia o setor da indústria. Durante as assembleias de negociação, a proposta da entidade sindical pedia um aumento de 84%, algo que não foi atingido. Mesmo assim, depois da greve as empresas melhoraram os salários em 56% e passaram a oferecer melhorias para garantir que o funcionário permanecesse nos postos de trabalho.

Com a vasta oferta de emprego naquela época, a empresa que mais valorizasse o empregado saía na frente das concorrentes. “A Azaléia foi a primeira a oferecer um salário melhor e isso colocou os outros para cima, pois se não dessem o aumento, acabavam perdendo os funcionários para ela. Isso também ajudou a garantir o mesmo salário. A Azaleia fez uma boa concorrência naquela época. Tudo mediado com o sindicato, o que ocasionou um pagamento razoavelmente bom para a época em que vivíamos”, enfatiza o sindicalista.

 

Estratégias e panfletagem – Para não correr o risco de demissão, a então funcionária na época, hoje integrante da diretoria do Sindicato dos Sapateiros, Marilei da Silva, 53 anos, relata como ela e seu irmão se dividiam nos protestos em frente às fábricas. “Eu saía da empresa Simpatia e ia para frente da Azaléia, enquanto ele, que trabalhava na Azaléia, ia para a frente da Simpatia. Assim a gente garantia que o patrão não nos enxergasse e conseguiríamos fazer parte da paralisação sem correr o risco de perder o emprego”.

Assim como Marilei, o diretor Antônio da Silva destaca que o início da mobilização começou com poucos participantes. “Nós saíamos só com um carro de som e eu e uma colega entregando panfletos. Mas depois os trabalhadores foram se reunindo e a greve tomou uma proporção muito maior do que esperávamos”, salienta.

Depois de 28 anos, a realidade é outra. Além da falta de vaga nas empresas calçadistas, o valor do piso salarial para a categoria gira em torno de R$ 1.100,00 (inicial) e R$ 1.200,00 (após 90 dias). A partir de agora, os dirigentes se movimentam para a negociação coletiva deste ano, já que a pauta da negociação é instaurada no mês de junho. Já as negociações iniciam efetivamente no mês de agosto.

“Nosso objetivo é mais uma vez buscar a garantia de uma valorização do trabalhador. Nossa economia hoje apresenta números de inflação que precisam se refletir no pagamento dos funcionários. O Sindicato está ao lado da categoria, reivindicando isto, com a mesma força de 1990”, destaca o atual presidente da entidade, João Pires.

 (esq. para a dir.) Almerindo, Marilei e Antônio: desde 1990 garantindo e defendendo melhores condições para a classe trabalhadora
(esq. para a dir.) Almerindo, Marilei e Antônio: desde 1990 garantindo e defendendo melhores condições para a classe trabalhadora

Sindicato dos Sapateiros/Divulgação

Durante três dias os trabalhadores de Parobé paralisaram a produção de calçados buscando salários melhores
Durante três dias os trabalhadores de Parobé paralisaram a produção de calçados buscando salários melhores

Sindicato dos Sapateiros/Arquivo

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